26.3.12

Sozinho nunca está o coração que ama


 Isadora Garcia

    Hoje acordei e havia um pássaro em minha janela. Aproximei-me e estranhei a calma do pequenino frente ao que deve parecer um gigante para ternos olhinhos, tão belos que são! Após desfrutar da tal doce surpresa, voltei à rotina incessável dos dias, quase cega de tão automática. A comida sem gosto das horas poucas da manhã, a água caindo em meu corpo e o que devia ser o milésimo engarrafamento marcado pela mesma cena de sempre me impediram de reparar uma presença pequena, discreta, mas constante.
              Foi divagando em meio às explicações do professor, sempre ininterrupto em suas palavras complexas, que o notei ao meu lado. Era o pássaro da minha janela, era ele a me vigiar! Trocamos perguntas explícitas e mudas, buscando respostas em faces tão distintas, que impossível nos era ler nos traços um do outro o que figurava nosso diálogo.
          Tentei fotografar cada pena colorida. Procurei memorizar em detalhes aquele momento, aquela conversa silenciosa calorosamente a me inquietar. Mas quanto mais me preparava para o susto de sua partida, mais ele me dava certeza da estabilidade de sua presença. Não nos separaríamos mais, isto era óbvio! Qualquer um seria capaz de ler tais verdades nos detalhes daquele momento, mas éramos nós os únicos a dançar sob o som daquela melodia. Os dias seguintes vieram e cada vez mais me alegrava nossa parceria. Nunca mais me via a sós. Nem na dor, nem na alegria. Protagonistas eram dois dali em diante na poesia.