25.2.12

As vozes do conhecimento

Por: Isadora Garcia

Era uma vez um menino muito curioso. Ele queria saber sobre tudo, perguntava aos adultos sem parar. Andava com os olhos bem abertos, atento ao mundo que o cercava. Mas à medida que foi crescendo, foi ficando triste. Tudo o que sabia, pensava, fora ensinado a ele por outros. Seu conhecimento nunca seria a priori, sempre haveria intervenção dos que o cercavam. Ele parou de perguntar, parou de ler, passou a tentar descobrir as coisas por si mesmo, apenas com o uso de seus sentidos e de seu pensamento. Gostava de analisar o comportamento da natureza, pois, para ele, ali não haveria intervenção humana, ele poderia compreender o que quisesse da maneira que julgava mais pura.

Com o tempo, porém, este isolamento da sociedade foi lhe deixando solitário, melancólico e ele passou se sentir inútil. Sua família, depois de muito tentar trazê-lo de volta ao convívio social, desistiu, acreditando que ele havia enlouquecido e que negaria para sempre qualquer ajuda. As maravilhas da natureza não mais o fascinavam, nem mesmo o movimento das nuvens, que tanto gostava de observar. Já era um homem e aquele sentimento de que o mundo desfilava na frente de seus olhos para ser por ele descoberto morria cada dia mais. Não havia mais a necessidade de buscar conhecimento, pois percebera que o conhecimento preso em seu corpo não servia de nada. Foi então que lhe ocorreu uma ideia maravilhosa! Era isso! Havia desperdiçado grande parte de sua vida atrás de algo que não era o que de fato lhe satisfaria! Mas agora ele sabia o que tinha de ser feito e a felicidade uma vez mais irradiava de seus olhos.

Voltou correndo para a vila onde morava, sorrindo a todos. Olha, o moribundo doido voltou, diziam os que o viam passar. Sua família chorou emocionada com o reencontro. O que o fez voltar, meu filho? Perguntou a velha. Mãe, descobri! Eu descobri, mãe! Dizia sem conter o entusiasmo. Descobriu o que, meu filho? O que tanto procurava que demorou esses anos todos para encontrar lá sozinho? O temor de que a loucura não houvesse ido embora ainda a atormentava. Descobri meu papel no mundo, mãe, para que sirvo! A resposta não foi muito bem compreendida pela velha, mas ao ver seu filho tão feliz, não pode deixar de comemorar. Fico feliz por você, meu anjo, muito feliz na verdade! Disse abraçando-o.

Os anos passaram e o que fora uma vez o menino mais curioso da cidade tornara-se o mais sábio dos professores. Transmitir seu conhecimento era o que mais o agradava. Reunia-se todos os dias com pequenas crianças ansiosas pelas histórias do bom professor. As aulas eram viagens pelo mundo. Pelas palavras do mestre, as crianças eram capazes de viver o que muitos adultos da vila foram incapazes de experimentar. Os pais ficavam felizes ao ver seus filhos tão entusiasmados para irem às reuniões, o que as tornou, com o tempo, cada vez mais cheias.

O professor percebera que o conhecimento não é corrompido quando é trazido por outra pessoa. Pelo contrário, ele é enriquecido! Aquilo que descobrimos por nós mesmos, ao ser passado a outro, será interpretado de forma diferente, o que dá início a uma constante renovação. Muitas vozes estão contidas nos conhecimentos que cada sociedade cultiva e, quanto mais vozes formos capazes de acumular, mais rico será esse conhecimento.

20.2.12

A última cena

Isadora Garcia

Para Francisco Pedro Garcia


Às vezes a lembrança da tua lágrima

Vem, sorrateira, me visitar.

Não sei se chora mais a lembrança

Ou o coração a lembrar.