29.12.10

Expectativas de um novo ano

Isadora Garcia

Momentos que passaram
Não podemos fazer voltar
Mas aqueles que ainda vêm
Podemos modificar

Esqueçamos as tristezas
Enterremos o arrependimento
Com um novo suspiro
Comecemos um novo tempo

Forças hemos de ter
Em uma nova era
Temos que crer

O novo há de ser
O melhor que
Iremos viver

26.10.10

Felicidade gratuita

Por: Isadora Garcia

Uma lágrima emocionada varre meu rosto. Não sei bem porque ela invade minha noite; não consigo decifrar, muito menos pôr em palavras essa felicidade pura e sem motivo que me enche e completa.

O despertar de sentimentos bons, o crer num amanhã mais colorido, a certeza de um futuro mais próspero, recebo em avalanche tais inexplicáveis sensações e sorrio. Meu riso é bobo e inocente, já inerente a uma expressão de alegria presente.

Deixo aqui, portanto, este pequeno bilhete, registrando um momento mágico e indescritível de simples complexidade. Amarro a ele um sorriso, penduro junto a uma canção e isso basta para minha satisfação.

Um livro, um filme, uma amiga e uma canção. Coisas bobas que fizeram minha noite feliz. =)

21.10.10

Até quando direito vai ser dever?

Isadora Garcia

Tanta gente votando sem saber
Tanta gente votando sem querer
Tanta gente votando por você

Até quando direito vai ser dever?

Desde quando meu voto está a venda?
Desde quando me vestem esta venda?
Desde quando cidadania virou lenda?

Até quando serei julgada pela renda?

Procuro onde prenderam minha liberdade
Procuro onde ficou minha dignidade
Procuro onde se perdeu a sociedade

Até quando inventarão novas verdades?

7.9.10

Silêncio de doce melodia

Isadora Garcia

Silêncio de doce melodia
Vieste acordar minha melancolia?
Apontar-me tão cedo a luz do dia
Sereno e demorado em tua cortesia?

Silêncio de transparente poesia
Vieste livrar-me de tal nostalgia?
Levar de vez em tua companhia
Toda essa minha fantasia?

Encobre-me em tua sinfonia
Afasta-me de tal euforia
Ensina-me a tua terapia.

Auxilia-me nessa travessia
Até que sobre tal ousadia
Tenha eu total autonomia.

4.9.10

Um adeus tardio

Isadora Garcia
Para Francisco Pedro Garcia
.
.
Tento apegar-me a memórias difusas
de um passado feliz ao teu lado.
Eras tão sábio, tão erudito,
um homem que construiu uma vida de glórias
com o suor e a vontade de vencer
que guardava no peito.
.
As lágrimas não param de rolar meu rosto.
Choro com a fraqueza de uma criança,
tão pequena frente ao mundo, tão impotente.
Choro com a força de um adulto,
que, infelizmente, compreende o que se passa
e se arrepense como nunca pensou ser possível.
.
Foste embora, sim, já era previsto,
mas a dor que suporto, esta não me era conhecida.
Foste embora e me deixaste tua lágrima,
cena que ficará presa, vívida em mim
fazendo companhia para o aperto em meu peito.
.
Perdoe o vazio de minhas palavras caladas.
Se pudesse, berrava agora meu amor para o mundo.
Perdoe meus erros, me perdoe...
Só agora vejo a importância
que teria tido aquele adeus.

3.8.10

O egoísmo do amor

Por: Isadora Garcia


Se algo aprendi nos últimos dias, sem dúvida é que o amor é um sentimento egoísta. Quando se ama, por mais que jure para si mesmo que o que mais importa nesse mundo é a felicidade da pessoa amada, o coração dará um jeito de enganar a razão e agir por conta própria, buscando a realização de suas vontades, sem nem pensar nas conseqüências de seus atos.


Quando se ama, o sentimento é tão forte, que ignora-se o do outro, pensando sempre ser o único dotado de tamanho amor. O que o outro sente, a maneira como o outro age, o ser apaixonado não busca entender nada extrínseco ao seu amor, o que resulta na formulação de certezas errôneas e, principalmente, egoístas.


O amor pode ser o melhor dos acontecimentos, mas pode também ser o pior. A capacidade destrutiva do amor é inacreditável. Como costumam dizer, o amor é cego, mas cego não para enxergar os defeitos do que se ama e sim para enxergar o mundo ao seu redor. O amor ignora a existência de outras coisas a sua volta, de outras pessoas e seus respectivos amores e é aí que entram os desentendimentos, as brigas, os atos impensados e a capacidade destrutiva do melhor sentimento de todos.


Sei que, mesmo depois de toda essa conclusão triste, quando chegar a minha vez de sentir o que por hora observo, agirei desta mesma maneira, passarei por cima de sentimentos alheios e deixarei feridas que não pretendo, que no futuro arderão mais ainda no meu próprio coração repleto de amor.

30.6.10

Mão-dupla

Isadora Garcia

Eu te amo
Não posso dizer
Que te esqueci
Hoje vejo
Em ti
Minha felicidade
Não guardo
Rancor
Só conheço
Amor?

...ou...

Amor?
Só conheço
Rancor
Não guardo
Minha felicidade
Em ti
Hoje vejo
Que te esqueci
Não posso dizer
Eu te amo

21.6.10

O preocupar

Isadora Garcia


A noite me traz

O preocupar.

Silencioso, ardiloso,

Paira pelo ar.


Já tentei todos os remédios,

Não há como me medicar.

Basta o cair do dia

Para o sono ele me roubar.


Repetem-se as dúvidas,

Inútil é o pensar.

Saída não acho

Para me libertar.


Tateando no escuro,

Tento fugir.

Busco ajuda,

Não sei como agir.


É sempre o mesmo duelo,

Procuro medir.

Forço-me ao caminho certo

Mesmo tendo que me ferir.


O coração não posso

Sequer ouvir.

Insisto, imploro

Para desistir.


Cansada do mesmo lutar,

Me pego a dormir.

As forças parecem faltar,

Mas tento sorrir.

17.6.10

Comptine D'un Autre Été: L'après Midi (Yann Tiersen)

Isadora Garcia

O som doce destas notas,
ao tocar-me os ouvidos,
mistura-se ao meu coração.

Surge a vontade súbita de transpor

meus sentimentos com esta canção.


A melodia dança, suave,

não me atinge de forma natural.

Traz consigo uma magia única,

é algo maravilhoso, sensacional.


Meus olhos se fecham em silêncio

num ritual próprio de adoração.

A música canta, inocente

do próprio poder de invocação.


16.6.10

"Sem ver para onde vou, passo a remar.
Não sei quanto de mim constrói o barco,
Nem sei quanto de mim preenche o mar."

(fragmento do poema "A não-tormenta", de Henrique Rodrigues)

Limite

Henrique Rodrigues


Posso dominar o verso, não a vida

Que não cabe em laço, ou pode ser medida.


Há uma certa complacência nisso tudo,

Porque o verso pode estar assim, desnudo,


Para que eu o vista com o que me convenha.

Já a vida, esguia, não pede contra-senha


Que a revele. Está sempre por ser coberta

Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta


É que a vida escorre aqui nesta ampulheta

Dos versos, halo tão-somente faceta


Que permite termos algo em nossas mãos.

Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.


(Do livro A musa diluída)

6.6.10

Um ano de muito peso

– um desabafo há muito tempo engasgado

Vamos chegando na metade do ano e eu, adiantada, faço um balanço dele. Este ano tem sido tão pesado, tão repleto de emoções fortes. Ocorreram grandes coisas – boas e ruins – e a carga que seguro por estar vivendo tais experiências é grande. Estou esgotada, se é que me é permitido admitir.


Esse ano vi amizades se desfazendo, pessoas indo embora com raiva de mim... é impossível descrever o peso com que tais lágrimas correm cobrindo o meu rosto. Vê-los partir e nada poder fazer para que pelo menos lembrassem de mim com sorrisos...


Esse ano percebi meus avós mais doentes do que nunca, vivendo cada dia com menos forças, com menos vontade, sendo que qualquer um poderia lhes ser o último. E eu (dói demais admitir) tentando fingir que está tudo bem, fechando os olhos para o presente, tentando atar à minha mente memórias já difusas de dias alegres ao lado deles quando ainda sorriam e conversavam comigo.


Esse ano resolvi me preocupar um pouco menos com a escola e com a escolha do vestibular, achando que, assim, aliviaria as tensões que conheci ano passado e nas primeiras semanas desse. Mas, pelo visto, minha intenção não foi muito bem aceita pelos meus pais, que acham que, por se tratar do último ano, eu deveria estar dando mais de mim, esforçando-me mais do que nunca para conseguir realizar as expectativas deles em relação à minha colocação no vestibular. É claro que eu gostaria de ir muito bem, mas, sinceramente, prefiro relaxar minha mente e passar junto da maioria do que me estressar como eu estava me estressando para conseguir um lugar de mais prestígio.


Esse ano conheci mais sobre pessoas maravilhosas, que hoje me são amigos essenciais. E são essas pessoas que mantém vivo em meu rosto o sorriso que tento carregar todos os dias. Sim, nesse ano, apesar de tudo, sorri. Sorri muitas e muitas vezes graças às minhas amizades, graças ao sentimento maravilhoso de amar e ser amado sem dar ou querer em troca absolutamente nada, apenas a certeza de que amanhã será um dia alegre, afinal, será mais um dia ao lado dos meus amigos.


13.5.10

Na gaveta virtual dos textos esquecidos, achei um bem antigo (2007) que gostei! Aí vai...


O peso da responsabilidade
Isadora Garcia

Da janela espio os homens.
Seres indomáveis.
Seres magníficos e maléficos.
Seres muitas vezes marcados por cabelos grisalhos de muitas batalhas.
Seres que erram e diputam.
Seres que conquistam e se sacrificam.
Seres de muitas características.
Características provenientes do medo e da reponsabilidade
de serem a única espécie inteiramente racional.

9.5.10

O que eu mais quero no mundo

Isadora Garcia (para bruno)

Em primeiro lugar, a sua felicidade.
Em segundo, o seu perdão.
E em terceiro, um abraço seu.

Sei que não posso ter os três,
por isso me calo, aguardo.

Talvez um dia tudo mude,
o tempo há de me acudir.

Por enquanto escondo
meu desejo imenso
de ver você sorrir.

26.4.10

De dia, de noite...
Agora não mais importa,
vejo estrelas em toda parte...

28.3.10

Início do fim

Isadora Garcia


Aqui dentro

pesa a dor da culpa.

Saber como te magoei

é meu castigo.


Se algo pudesse fazer

para rever o teu sorriso,

saiba, já teria feito.


Por favor não sofra,

não vale a pena,

eu não valho a tua dor.

14.3.10

Princípio comum

Isadora Garcia


Num segundo me vem a vontade

de tudo o que sinto poder expor.

Corro então, busco a verdade

de cada palavra que venero com amor.


Muitas vezes o que fica é o vazio,

a procura ainda não acabou.

Pelos labirintos de rimas vadio,

pois a tentativa primeira não saciou.


Então de repente o conflito faz sentido,

reconheço-me por inteiro depois de ter lido,

aquieto meu peito e sorrio por ter conseguido.


Na poesia acho não a resposta, mas a solução.

Sua magia me fascina e me dá gratidão.

Sentimentos e palavras em perfeita união.


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Sendo hoje o Dia nacional da poesia, não podia deixar de fazer esta homenagem! A poesia merece mais do que isso, na verdade, mas como não posso mostrar a todos do mundo o seu verdadeiro valor, fico com estes versos singelos neste dia chuvoso...

26.2.10

Affonso Romano de Sant'Anna:

A

Arte

___é luz

___é sina


A

Arte

___aluzcina.


Quero

___Aluzinarte.


(http://www.affonsoromano.com.br)

24.2.10

"A linguagem é uma armadilha. O poeta é o primeiro a reconhecer que dela não conseguimos escapar."
A gaiola vazia, coluna de José Castello, Prova & Verso do jornal O Globo, dia 20 de Fev de 2010

9.2.10

Sonho interrompido

Isadora Garcia


Disparou meu coração

E antes mesmo que pudesse sentir

Teus lábios nos meus,

Subitamente despertei.


Igualmente de repente notei:
Era tudo um simples sonho.

Mantive os olhos bem fechados
Para continuar na ilusão.


Teu cheiro percorreu meu organismo.
Não sei como vivi até agora sem ti.
A calma me veio com teu romantismo,

Com todos os gestos que, acordada, fingi.


Porém no fundo eu sabia:

Essa desorientada alucinação não duraria.

Quando a verdade buscasse, o ato revelaria

O vazio em meu quarto.

8.2.10

Entre a ciência e a sapiência

Rubem Alves

[...]

Se os olhos não serviram como metáforas, falarei sobre pianos. Mais precisamente, sobre os pianos Steinway, os mais perfeitos, que estão nas grandes salas de concerto do mundo. Os pianos Steinway são produzidos de forma absolutamente rigorosa e científica. Tudo neles tem de ter a medida exata. Todos têm de ser absolutamente iguais, para que o pianista não estranhe. Mas um piano, em si mesmo, é estúpido. Falta-lhes o poder de discriminação. Os pianos obedecem tanto a um toque de macaco, de um louco ou do Nelson Freire. Os pianos não são fins em si mesmos. São ferramentas. São construídos para tornar possível a beleza da música. Mas a beleza não é um objeto de conhecimento científico. Ninguém pode ser convencido a gostar de Bach por meio de raciocínios científicos. Não me consta que nenhum dos especialistas em construção de pianos da fábrica Steinway jamais tenha dado um concerto. Ciência eles têm. Mas falta-lhes a arte. Para que o piano produza beleza há os pianistas. Mas os pianistas nada sabem sobre ciência da construção dos pianos. O que eles sabem é tocar piano, coisa que não é científica... Os fabricantes de piano moram na caixa de ferramentas. Os pianistas moram na caixa de brinquedos.

A diferença está entre “ciência” e “sapiência”. Os teólogos medievais diziam que a ciência era uma serva da teologia. Parodiando eu digo que a ciência é uma serva da sapiência. A ciência é fogo que aumenta o poder dos homens sobre o mundo. A sapiência usa o fogo da ciência para transformar o mundo em comida, objeto de deleite. Sábio é aquele que degusta. Mas se o cozinheiro só conhecer os saberes que moram na caixa de ferramentas é possível que o excesso de fogo queime a comida e, eventualmente, o próprio cozinheiro...

4.2.10

Impossível descrever



Isadora Garcia



Sinto como se a dor em meu peito fosse tanta
Que me impedisse de andar,

De sair do lugar.



Sinto como se me afundasse,

Perdida num lugar estranho a mim.



Sinto como se minhas infinitas lágrimas

Fossem tudo o que eu pudesse dizer.



Sinto como se minha cabeça pesasse,

Cheia das tentativas fracassadas.

Dos discursos ensaiados,

Das previsões incertas.



Sinto-me inútil,

Impotente quanto a um assunto

Impossível de descrever.