27.11.09

Era uma vez uma menina que queria conhecer o mundo. Ela sonhava acordada com todas as paisagens - naturais ou não - que poderia encontrar em lugares distantes de sua simples realidade.

A menina era pequena - ou pelo menos assim a consideravam - e, muitas vezes, o mundo "intelectual" se fechava a ela como se dissesse "só daqui a uns anos..." e isso ela detestava.

Desde que descobriu o poder que as palavras têm ficou fascinada e não queria mais sair de perto dos livros. Para ela cada livro era especial, tinha seu cheiro próprio, que lhe reservava um ar bastante pessoal.

Jovem, mas interessada, a menina almejava ser conhecedora de toda a literatura, de toda a cinematografia, de toda a poesia presente nas paisagens de todo o mundo.

Era uma vez essa menina que hoje identifico como eu.

A identidade perdida

(ou qualquer outro título melhor que esse daí..)

Não é que eu não saiba quem sou, simplesmente não sei quem eu quero ser...



Queria tanto ser uma daquelas pessoas que já nascem querendo exercer uma daquelas profissões "pré-moldadas": "Mamãe, vou ser médico!" ou "Papai, serei advogado como você!", mas não sou e não dá pra chegar e dizer "Mamãe, quero ser uma escritora rica, famosa e adorada por todo tipo de leitor". Desculpe, mas não dá. Não dá pra simplesmente sentar e escrever e torcer para que o mundo goste; não dá para fazer uma faculdade de letras sem querer ser professora, apenas pelo gosto que tenho pelas palavras... E é por isso que me sinto perdida. Perdida e sozinha procurando descobrir o que eu quero fazer da minha vida. O que eu quero ser na vida... Por que não dá para simplesmente digitar no Google meu nome e descobrir quais as opções para alguém como eu, com os meus interesses? Queria que a resposta para todas as minhas interrogações caísse do céu, mas parece que o tempo fechou de vez e não será fácil achar uma brechinha para a luz do sol vir me iluminar. Sabe qual é a coisa mais angustiante? É justamente saber que só eu posso descobrir todas as respostas, basta eu para achar o caminho... E mais ninguém pode responder as minhas perguntas, e mais ninguém pode descobrir o que eu quero, e mais ninguém pode decidir por mim.

11.11.09

Orfandade

Isadora Garcia


Estou cansada de ver em meus textos

A letra de outrem.

A inspiração se confunde com o plágio

E desisto do escrito cuja autoria é de ninguém.

Metade

Oswaldo Montenegro



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.