27.9.09


O que pesa e o que preenche

Isadora Garcia



Escrevo e fico mais leve.

Escrevo e torno-me mais pesada.

Porém este peso segundo não me incomoda

como o que sentia antes.


O pioneiro, o peso ruim, o peso pesado

machucava-me porque era tudo o que eu tinha a dizer

preso,

imperfeito,

confuso,

errado.


Mas, quando organizado,

quando, mais que sentido, explorado,

o peso preso caiu no papel

e encontrou seu destino

que é pesar naquele que o ler,

mas pesar de outra forma,

pesar como me pesou o segundo peso,

aquele que preenche, que enriquece.


Meu desejo mais profundo

é fazer essa troca de pesos diariamente.

Deixar cair na folha o peso que me pesava

E absorver na leitura o peso que me preenche.

21.9.09


Irrecusável

Isadora Garcia



Sinto-me invocada,

atraída,

chamada.


Sinto-me hipnotizada,

levada (sem aparente razão),

puxada.


Mas não me importo.

Antes mesmo que perceba,

me entrego,

me deixo guiar

por tal força desconhecida, suprema.

Tão misteriosa,

que muitas vezes me faz tentar descrevê-la.


Caminho junto a ela,

não me perco,

parece que sempre andei por tais trilhas.

A adaptação é imediata.


Abro espaço e a domino;

Abro a mente e a domestico.

Agora eu que a levo comigo.


A poesia, mesmo rebelde,

se entrega, assim como fiz,

se deixa guiar, une-se a mim,

muitas vezes me auxilia,

e nunca me abandona.


A vocação concretizou-se,

o chamado foi atendido,

o dom foi exercitado,

o talento foi desenvolvido,

a parceria se iniciou.

18.9.09


A evasão dos versos

Isadora Garcia



Roubaram-me os versos

só o que me restam são

resquícios de uma mente fértil

impossibilitada de se expressar.

13.9.09

“Saldade”


Sim, saldade com L mesmo, deixe que eu a escreva como quero, que essa minha saldade vem de mim e não de você, então sou eu sua dona e sua criadora. Escrevo-a assim, neologisticamente, porque essa não é uma saudade comum, batida, que já deu muito o que falar. A minha saldade tem gostinho de sal, tem presença de inerente tempero no meu dia.


Basta-me acordar logo de manhãzinha que ela vem rodear o meu espírito e me lembrar de coisas que há muito minha cabeça havia arquivado no baú do esquecimento. Sinto de repente novamente então todos os efeitos de um tempo que já passou, mas que, simultaneamente, se faz presente em cada inspiração que dou.


Sinto a falta da minha infância, daquela versão simples e inocente do meu eu atual, que podem até com razão apontar como jovial, mas que muito já aprendeu e, desde então, muito mudou e cresceu.


Lembro com um aperto no peito da minha casa, do lugar onde nasci e fiz muitos amigos. Por lá só tive coragem de passar duas ou três vezes desde que deixei, forçada, seu conforto maternal. Ao olhar com olhos molhados as paredes daquele antigo edifício, pesou em mim uma culpa enquanto li as letras da palavra abandono nas velhas janelas.


As memórias que armazeno em local privilegiado não me deixam mentir e podem até doer, saldosamente arder, mas são bens que guardo a sete chaves com amor e proteção animal.


Sonho acordada desde noites de natal até fatos que se repetiam diariamente. Assisto um filme em preto e branco nas lentes da minha infância e (re)vejo almoços de domingo do chefe (nos dois sentidos). Seus cabelos brancos já estavam lá, mas naquela época era tão diferente, tão vivo, ativo, presente em minha vida.


Limpo hoje a poeira de tais lembranças e choro, criança, a dor de outro tempo. Minha avó, tão atenta, estava ali ao meu lado e mal a notava. Hoje sofro a mente alterada de alguém que não mais me reconhece. Hoje lamento não ter aproveitado como deveria seus afagos e palavras de carinho.


Quero chorar agora todas as tardes na varanda, todos os cantos dos pássaros, todas as brincadeiras e correrias pela casa. Quero lavar de mim toda a tristeza de ter perdido uma época tão boa e poder continuar guardando as lembranças, mas que estas só me tragam sorrisos.


Revivo saldosa desde os momentos de alegria até os de tristeza. Guardo em mim tudo o que posso e penso não mais cometer o mesmo erro. Vou viver com os olhos bem abertos. Vou notar cada detalhe do céu que cobre minha janela de luz, vou distribuir palavras repletas de amor a todos os afetos da minha vida.


De hoje em diante não mais me pesará a saldade e sim completará a felicidade com a qual olharei para trás.

12.9.09

"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo."

Mário Quintana



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Hoje fui à Bienal e, assim como na última vez, amei! Assisti à leitura de poemas do grande Mário Quintana por Elisa Lucinda e Paulo José e foi uma experiência única. A naturalidade com a qual a Elisa fala os poemas, o sentimento que ele emprega na leitura... muito bom mesmo! Eu estava atrás do livro dela "A poesia do encontro", mas, infelizmente, só depois que cheguei em casa descobri que estava vendendo numa editora que eu não visitei... Mas a grande novidade do dia é que eu tive coragem e entreguei para ela 4 poesias minhas! Será que ela vai me responder?? A partir de agora vou ficar louca entrando no meu e-mail 95 vezes ao dia, hahahaha... Qualquer novidade eu posto aqui! =D

8.9.09


O chamado

Isadora Garcia



Escuto a poesia

A poesia a me chamar

A poesia que sinto no ar


A poesia está na cor

A poesia está no sabor

A poesia está no compor

A poesia que liberta a dor


Escuto-a gritando

Escuto-a sussurrando

Escuto a poesia

A poesia a me chamar


A poesia veio do mar

A poesia a me chamar

A poesia veio com o vento

O vento a sussurrar

As dores, a poesia a libertar


A poesia vem a cantar

A poesia a me chamar


A poesia

Tu não ouves?

Quer entrar

A poesia a te chamar.


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Este é um poema antigo meu.. acho que escrevi há 2 anos, mas gosto bastante, então, pela falta de novidades... é ele que posto hoje.

1.9.09


O chamado da noite

Isadora Garcia



Ouvi as horas todas da noite

Pude ver cada detalhe do eco

Que o silêncio provocou em meu pensamento.


Desenhei sonhando tua alma

Pude cheirar a doce saudade

E recordar o amor de outro tempo.


Não percebes que tuas constantes aparições

Despertam meu sentimento a toa

E reviram-me em meus lençóis?


Senti hoje novamente a presença

Do teu riso divertido

E pensei ter tocado a tua voz.


Isso é tortura, é loucura

Não posso continuar procurando teu cheiro

Não posso continuar vivendo uma ilusão.


Devo pedir de uma vez por todas

Que partas e leves contigo teu sorriso

Teus contornos perfeitos e toda essa tentação.


Embale teus olhos ternos, teu gentil tato

Junte tudo e não voltes mais!

Mas saias antes que eu sinta tua falta...


...e antes que esqueça da dor que ressalta.