20.8.09

Desafio II: contar uma história de dois minutos em duas páginas.

Minutos preciosos – a decisão de uma vida.

Por: Isadora Garcia



Renata corria pelo aeroporto descompassada. Esbarrava em muita gente, pulava malas, mas parecia nem se dar conta do mundo ao seu redor. Lágrimas rolavam pelo seu rosto pálido. A única coisa que conseguia ver em sua frente era a carta de Rodrigo avisando que havia se alistado no exército. Era uma despedida, o menino que não dispunha de mais de 19 anos partiria no vôo das 17h e faltavam dois minutos para fecharem os portões.


Ela tinha que chegar a tempo. Seu coração batia desesperadamente em seu peito. Ele tinha que saber da verdade, ela não poderia arriscar nunca mais vê-lo e ter que guardar o segredo com ela pelo resto de sua vida. Lembrou dos cabelos negros ondulados do seu amado. Pensou no sorriso dele de algumas semanas atrás. Era tudo tão simples quando ainda estavam na escola...


Sentiu um aperto no peito. Perdê-lo seria como morrer e ter que nascer de novo. Ela não lembrava mais como era viver sem ele e se forçava a não pensar nisso. Pulava de três em três os degraus da escada rolante que levava ao segundo andar.


Um minuto. Ela entrou na sala de embarque e parou por um momento. Qual era mesmo o número do maldito vôo? Lembrava que começava com 24, mas os 3 últimos números não vinham a sua mente de maneira nenhuma.


Caminhou pelas filas lotadas de gente e foi olhando para os painéis. Alguma daquelas seqüências de números deveria ser a certa e Renata sabia que se visse a placa se lembraria.


Já estava quase na última entrada e nenhum sinal quando, de repente, avistou o número correto. Disparou em direção ao painel que dizia “Vôo 24651”. Não havia mais ninguém na fila com exceção de um rapaz que caminhava na direção da aeromoça segurando uma mala de mão e sua passagem.


- RODRIGO!


O rapaz parou com a mão estendida. A aeromoça não sabia se checava a passagem em sua mão ou se olhava para a menina descabelada que berrava da outra extremidade do salão.


- Renata... – ele murmurou com uma expressão incrédula.


-Rodrigo! Espera!


Ele não sabia o que pensar. Ter que se despedir ao vivo não estava em seus planos, ele não conseguiria... Mas estava feito. Ele tinha que partir. Não havia mais como voltar atrás.


-Rodrigo! – Renata se jogou em cima do menino num abraço apertado que o fez cambalear para trás. Ele estava em choque. Não podia crer que a menina que amava estava ali e que ele teria que dizer a ela que teriam que se separar. Uma lágrima rolou por sua bochecha.


-Renata, o que voc...


-Rodrigo, por favor, me escuta. É importante. Você não pode ir. – ela disse atropelando as próprias palavras.


-Eu não...


-Shh. – ela colocou a mão sobre a boca dele e respirou fundo. Encarando-o nos olhos disse, então, dessa vez muito calmamente – Eu estou grávida.


De repente tudo ficou quieto. A mala que Rodrigo carregava caiu no chão. Era como se o ponteiro do relógio tivesse parado de girar para ele. Uma mistura de muitos sentimentos invadiu o peito do garoto. Pai? Como poderia ser pai? Isso mudava tudo. Isso mudava completamente tudo. Esperava ouvir qualquer coisa menos aquilo. Ele não podia abandonar um filho, ele não podia abandonar Renata. Agora era tudo diferente, ele tinha uma família!


-Com licença, mas os portões vão fechar agora. O senhor vai embarcar?


Mais um momento de silêncio. Rodrigo sorriu e encarou Renata. Mais lágrimas rolavam pelo seu rosto. Ele ergueu sua amada com um abraço apertado e a beijou carinhosamente, depois virou-se para a aeromoça e disse:


-Não. Eu tenho que ir pra casa. Pra nossa casa.


Os dois estavam radiantes de felicidade e se beijaram como se aquele fosse o primeiro beijo deles. Anoitecia do lado de fora do aeroporto e o avião de Rodrigo decolou. O rapaz de afastou de Renata um minuto e disse rindo:


-Você me pegou desprevenido.


-Como ass... – mas Renata não terminou sua frase. Nesse exato momento o garoto ajoelhou-se na sua frente segurando uma de suas mãos.


-Meu amor, como eu disse, você me pegou desprevenido, então não tenho um lindo anel para lhe oferecer. Será que mesmo assim você aceita se casar comigo?


Renata não sabia o que fazer com toda a felicidade que estava sentindo. Era como um sonho: o amor da sua vida, um filho deles crescendo em sua barriga.


-É claro que sim! – E então ele a ergueu e a girou no ar. Todas as pessoas no salão estavam atentos à cena e aplaudiram o jovem casal.


Eles não se importariam se alguém lhes condenasse por serem muito jovens para assumir tal compromisso ou se dissessem que haviam sido irresponsáveis. Nada disso faria sentido para eles, já que fora o filho que salvara a vida deles. A vida deles juntos.


17.8.09

Desafio I: contar uma história apenas com descrições do cenário.


Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada... mas tinha história.

Por: Isadora Garcia


A casa por fora parecia comum, como qualquer outra casa antiga, mas um alguém minimamente atento que a adentrasse, perceberia logo que suas cortinas velhas e rotas guardavam muitas histórias.

A porta de estilo imperial com dobradiças quase quebradas rangia quando era aberta e proporcionava a primeira visão do interior do que foi a morada de Dona Lourdes. O hall era esguio como a senhora e prolongava-se forrado com um tapete vermelho já gasto.

Ao fim do estreito corredorzinho havia uma grande sala que abrigara toda uma vida repleta de amores e aventuras e muitos “era uma vez”. A parede era pouco vista, já que cercando a sala havia estantes com livros e mais livros, muitas vezes equilibrados por sei lá o quê que os impedia de desabarem todos no chão empoeirado.

Com os mais variados títulos, os livros falavam sobre os mais variados assuntos, mas duas coisas eram comuns a todos eles: a autora e o vilão da história. Sim, muitas pessoas escrevem sagas sobre um herói, mas o que ali se encontrava era praticamente uma enciclopédia relatando diversos episódios envolvendo diversas pessoas, mas cujo fim era traçado sempre pelo mesmo homem traiçoeiro.

Numa pilha no chão estavam agrupados diversos discos de vinil de música clássica que pareciam ser a única coisa que anos antes mantinha a casa alegre. A música era tocada numa vitrola belíssima que ficava no centro do cômodo sobre uma mesa de três pés.

A sala inteira, por maior que fosse, possuía apenas duas saídas: uma para a cozinha e outra para o quarto. A cozinha era praticamente circular e seus artefatos de tecnologia muito escassa marcavam a morada de alguém que provavelmente evitava shoppings center e qualquer tipo de local onde se encontraria facilmente eletrodomésticos projetados para facilitar a vida das pessoas do século XXI.

O cheiro de café era a única coisa que parecia ter sobrevivido aos longos anos em que a casa se abasteceu a si mesma, sem ajuda de vida humana. Nos armários jaziam antigos pacotes do negro grãozinho que, com certeza, era a bebida favorita de alguém, pela quantidade exagerada que fora ali abandonada.

O quarto era um ambiente bastante parecido com o restante da casa, muito antigo, mas que contava com um diferencial marcante: a luminosidade. A sacadinha que vivia com as portas escancaradas permitia uma luz natural incrível que privilegiava o assento diante de uma pequena mesinha de madeira. A mesa sustentava uma máquina de escrever bastante marcada pelo uso contínuo que ignorava hora, tempo ou época.

Ao banheiro situado num cômodo cuja entrada era no canto do quarto pouco se deve acrescentar. Era um banheiro como outro qualquer com o diferencial de não apresentar espelhos.

O grande e rústico armário do quarto assistiu a muitas caminhadas indecisas em busca de inspiração e pôde presenciar o último dos acontecimentos humanos na casa. Humano nem tanto, o referido acontecimento marca o perigo que pode representar uma vida solitária acompanhada de um ser simultaneamente real e imaginário de mente sanguinária.

Pelo chão do quarto estavam espalhadas várias folhas brancas rabiscadas com o mesmo tipo de desenho: a silhueta de um homem prestes a assassinar uma vítima. A vítima parecia ser a dúvida do autor dos desenhos, pois ora era mulher, ora homem. Ora jovem, ora idoso. O único desenho não riscado, porém, era um inacabado onde uma velhinha sentada digitava o ponto final de uma história de terror.

Ares de mudança...

É impressionante como as coisas podem cair em nossas mãos no momento certo. Exatamente quando estamos mais perdidos, quando mais precisamos de um guia nos vem - como se planasse - a ajuda. Ok, não é sempre assim, se não estaríamos todos ricos e tomar decisões não seria mais difícil, mas quando acontece às vezes nem damos valor.

Bom, vou fazer desse blog um pouquinho meu diário por hoje... Na verdade toda essa introdução traduz-se no meu estado de espírito atual. Estou perdida. Sei que muitos podem me dizer que ainda há tempo para escolher, mas o fato de o vestibular ser ano que vem e eu ainda não ter me decidido me angustia.

Eu adoro ler e escrever, para constatar isso não é preciso nenhum mapa ou bússola, mas o fato é que não dá para apostar tudo na sorte e torcer para conseguir ser uma escritora famosa para poder garantir o aluguel no fim do mês. Simplesmente não dá. Bem, o fato é que nesses dias eu tenho tentado descobrir se vale a pena investir na minha escrita. Quero dizer, os amigos e a família sempre dizem que o poema ficou bom ou que aquela redação deveria ter merecido um dez, mas – sem ressentimentos, pessoal – como posso confiar neles?

O que eu queria na verdade era ter um crítico ao me lado. Alguém que eu respeitasse as idéias e admirasse o suficiente para aceitar as piores críticas. Alguém que pudesse me fazer crescer enquanto escritora. Mas, assim como achar uma fada madrinha, isso não é nada fácil e muito menos sai de graça. Porém para a minha felicidade, assim como eu comecei a descrever no início desse pequeno desabafo, hoje pareceu que a ajuda caiu do céu em minhas mãos.

Simplesmente do nada um professor meu muito querido que sabe da minha paixão pela escrita me deu um jornal (Folha de São Paulo – Caderno “Mais!” do dia 16 de agosto) com uma matéria que fala exatamente sobre como aprimorar sua escrita e – por que não? – sua leitura.

Decidi que vou ser autodidata nesse assunto.Vou procurar dicas na Internet ou em jornais e me testar (não digo diariamente, mas pelo menos semanalmente, como a maioria dos cursos que eu já ouvi falar). Os resultados vão aparecer por aqui. É claro que se não aparecerem significa que o meu plano não deu certo, mas isso eu nunca vou admitir, simplesmente ficará evidente na ausência.

Mas o possível fracasso não importa, quando se começa um projeto deve-se pensar que ele dará certo e que trará ótimos resultados!

Vamos ver no que isso dá...

5.8.09


Súbita
Henrique Rodrigues


viver é hoje, tão prosaico
e em prosa tudo segue, lento
mas eis que de repente irrompe
uma idéia simples, você

tão pequenina pulsação
fruto brotado nesta folha
vela e revela, mostra e guarda
o que está além da prosa, em verso


(retirado do livro: "A musa diluída", 2006)