28.7.09


Vestibular

Isadora Garcia


Estou surda, calada, perdida

Não sei para onde ir,

Não acho saída.


Espero muda, isolada, indecisa

Estou aguardando que outrem

Faça a escolha precisa.


Solta num mar de opções

Que me afoga impiedoso

Estou sem coragem para desbravar

Pareço nem sequer me esforçar


Presa em minhas inquietações

Assisto o tempo correr furioso

Já vi que terei de lutar

A resposta não está fácil de achar

25.7.09


Diariamente

Isadora Garcia


Só o que vejo
É uma página em branco
E o cursor piscando

Mil frases me vem à cabeça
Os temas rondam
E as palavras, ah, essas dão piruetas
Dançam graciosamente passos claramente ensaiados
Elas fazem de tudo para atrair minha atenção
Mas ao menor movimento de meus dedos
Elas simplesmente desaparecem

O que antes era quase um strip tease
Agora vira brincadeira de pique-esconde
E não há quem as faça mudar de idéia
Não há quem as traga de volta à luz

Mas como em qualquer romance
A caçada dá ainda mais sentido à luta
E a correria (re)começa

15.7.09


Receio alheio
Isadora Garcia

Quando a essência pura das palavras
Penetra em meu peito
E chega ao coração
Um estranho sentimento
Espalha-se por mim

É como se nada mais me assustasse
É como se eu houvesse encontrado
Aquele porto seguro
Aquele abraço apertado
De proteção sem fim

Não consigo entender
Aqueles que se negam tal sensação
Que apresentam estranha resistência
Que temem adentrar suas almas
Se conhecer assim

Quando permitirem a chegada
Da doce fragrância dos versos
Ficarão tontos de provar tamanha beleza
E então acordarão do sono profundo
Nos entendendo enfim.

14.7.09


A poesia nos conecta
Isadora Garcia

Na poesia não existe época,
Não existe idade,
Nem cor.

É por isso que reafirmo:
No nosso dia-a-dia
A poesia deve se sobrepor.

Através dela corações se comunicam
Não há papel que separe
Autor de leitor.

13.7.09

Hoje estou fugindo um pouco do padrão. Em vez de poemas meus estou postando textos de outros autores referentes ao fazer poético, que é um tema que eu adoro! E agora um texto maravilhoso de Danilo Castro (http://daniloalfa.blogspot.com/)

Labirinto

"Eu hoje me cansei um pouco de mim. Cansei dessa necessidade de escrever em primeira pessoa para me expressar melhor. Cansei de relatar as verdades que não vivi e de acreditar que elas são parte da minha história. Cada vez que eu pulo num abismo eu descubro que o chão nunca me espera e que o eco do meu berro estrondoso fica pairando até não se sabe quando. Eu sou tão volúvel, tão volúpia, tão Eurico que eu cansei de me ser. Eu cansei dessa fome aqui no estômago mesmo. Cansei de me confundir entre o que é e o que não é de mim aqui no papel. Cansei de escrever as palavras: escrever, papel, personagem, história e algumas outras que são as mesmas coisas. Quero ser mais opaco e não o reflexo do que ando lendo. Eu quero ser o recado e não o menino de recados. Eu quero me ser, mas não sei onde me busco. Estou sempre no abismo, só sei que pulei e que gosto da sensação que antecede o pulo. Cansei de não ser pontiagudo e de tentar o ser. Sou todo esférico, polido de mundo e quero cortar a pele dos outros sem ter força ou dom para isso. Quero menos pretensão e apenas escrever sem ser repetitivo e se por ventura alguém me ler, não me importarei. Parece que eu careço de reconhecimento e tenho todo o egocentrismo do Tudo, mas não passo de mosca morta, porque a viva ao menos irrita. Eu ando meio confuso sem saber onde estão os planos habitáveis e os inabitáveis. Eu não sei quem sou no papel e estou me perdendo quando tento me desvendar fora dele. É como se de mim evacuasse o que sou com porções do que não sou, mas o que não sou emana do que ponho aqui e se funde ao que vivo. É um drama sem a estrutura início-clímax-resolução. Estou eternamente vivendo o clímax sem o ser, por isso eu sôo vago e transeunte. Se eu resolver escrever em terceira pessoa é provável que eu não venha ter a habilidade de ser verdadeiro. E quem me disse que o que escrevo é verdadeiro? Ninguém me responde. São vários mundos, vários personagens, uma multidão que crio ao meu lado, mas parece que é cada um por si ou estou sendo alvo de uma conspiração maligna de mim contra mim mesmo? Cansei de ser ator, de ter essa necessidade de me usar para viver o que não vivo, de gritar o que nunca gritaria ou suar dos meus poros as almas que nunca habitaram meu esguio e desengonçado corpo em eterna puberdade. Cansei, não quero mais escrever. Quero a normalidade (cacofônico?), vou exercer minha função procriadora na terra e ir-me o quanto antes daqui. É por isso que tenho medo do que ponho em letras, porque nem eu sei o que vai vir daqui a pouco, daí quando eu reler as asneiras que acidentalmente brotaram, irei bater de frente com dilemas absurdos que nunca da minha voz sairiam. Eu estou perdido. Alguém aí tem a chave do meu enigma?"

Da feitura do poema
Anne Sexton em entrevista a The Paris Review

"Os momentos que antecedem o surgimento de um poema, quando ocorre a expansão da consciência e você percebe que existe um poema em algum lugar, você se prepara. Eu corro ao redor da casa, saltitando, é uma exaltação maravilhosa. É como se pudesse voar, quase, e sinto-me muito tensa antes de ter contato com a verdade – a verdade dura. Então sento-me e dou a partida.



[...]



Acredito que sou muitas pessoas. Quando estou escrevendo um poema, sinto que sou a pessoa que deveria tê-lo escrito. Assumo com freqüência esses disfarces; eu os abordo como faria um romancista. Às vezes me torno outra pessoa, e quando isso acontece, acredito – mesmo nos momentos em que não estou escrevendo o poema – que sou essa pessoa."



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Postagem retirada do blog:

http://outraslevezas.blogspot.com/


12.7.09


Incautamente
Isadora Garcia

As palavras parecem querer brincar com meu inconsciente
Levando-me a escrever apenas o inconsistente
Cada uma delas me leva ao incoerente
Brinca comigo sempre consciente
Do desastre que causa em minha mente
Afeta-me certeira, deixa-me doente
Mas não desisto, sou persistente
Sei que um dia hei de possuí-la finalmente
E ela será por um momento minha, exclusivamente
Passearemos juntas, ela se julgará presa, inerente
E perceberei meu erro de repente
Guardá-la comigo injustamente
Afetará todo o mundo que desesperadamente
Procurará seu sentido por toda parte desordenadamente
É, já percebi: dessa luta não sairei vitoriosa, certamente.

11.7.09


Erram comigo, erro contigo, erras com ele... Somos apenas humanos...
Isadora Garcia

São vinte e quatro armas apontadas para a sua cabeça.
Uma para cada momento do seu dia.
Você não agüenta mais essa pressão,
Mas não tem para onde fugir.

Todos se sentem como você,
Mas ninguém admite a própria fraqueza,
Ninguém admite a própria condição...

A cobrança é de enlouquecer,
Mas há sempre alguém de quem se possa exigir
Aquilo que exigem de você.

Pois é... sofre com o desespero dos horários a cumprir,
Com a pilha de afazeres para o dia seguinte,
Mas não é isso que lhe fará ter pena do seu subordinado.

São vinte e quatro armas apontadas para a cabeça dele.
Uma para cada...